sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Viagem a Machu Picchu: 21/07/08 - 9º Dia

Mais um dia na magnífica cidade de Cusco. Acordei um pouco depois das 8, tomei o café da manhã (o melhorzinho até agora, porque tinha um apresuntado pra comer com o pão seco daqui) e fui tirar xérox da minha identidade, carteirinha de estudante e visto de entrada no Peru para emissão da passagem para Águas Calientes e compra do ticket de entrada em Machu Picchu.

De volta ao hotel, meu amigo Edigar perguntou sobre os mercados de artesanato que eu tinha ido, pois queria comprar algumas lembrancinhas. Como eu estava interessado em voltar aos mercados para comprar presentes e olhar meus quadros com mais cautela, me propus como guia e fomos bater perna pela cidade. Andamos bastante pelos mercados até que PARAMOS (literalmente) numa banca onde o Edigar ficou pelo menos duas horas para comprar quase todo o estoque do peruano. O dono da banca era muito gente fina e atencioso, e ainda fez desconto em todos os produtos que compramos. Eu comprei somente duas camisetas, um porta carteira de cigarros e um chaveiro para presente, já o Edigar, gastou mais de 400 soles com presentes para os seus 572 irmãos e colegas de trabalho. Imagina na hora de negociar e pagar cada produto... Eu sou mão-de-vaca de natureza, só compro quando o vendedor está quase desistindo do negócio por causa da minha tamanha chatice, e ainda junto com o Edigar, que consegue ser pior que eu... Era assim: O produto custava 100, nós pedíamos 20 e acabava caindo pra 30 ou 40. Na hora de pagar extorquimos mais ainda o peruano, que tava quase mandando a gente ir catar pedra (e olha que tem pedra pra caramba em Cusco).

Com as mãos cheias de sacolas, satisfeitos com as compras, fomos até o mercado que tem umas bandeirinhas do Peru nos corredores e fica em frente ao chafariz, onde eu queria olhar as pinturas cusquenhas, já que o vendedor estava ausente ontem. Para minha surpresa, o dono da banca tinha saído para almoçar. Como eu não queria perder a viagem, procurei um lugar para sentar e esperei uma meia hora.

Enfim, o dono da banca chegou e eu pude ser atendido. O pintor era o próprio vendedor, então pude trocar mais idéias e aprender um pouco mais sobre a escola cusquenha de pintura. O cara é um grande artista, porque além das pinturas, ele mesmo faz as molduras e outras peças de artesanato que estavam expostas em sua banca, como uma réplica do púlpito da catedral de Cusco todo talhado em madeira. Fiquei mais ou menos uma hora e meia para ver algumas telas e decidir quais eu iria comprar, afinal, era uma pintura mais bela que a outra. Como o preço estava mais acessível que nas galerias do Bairro de San Blas (Enquanto uma pintura média e bonita em San Blas custava em torno de 170 soles com a moldura dourada, nesse mercado a pintura grande saía por 140 soles), eu acabei levando dois quadros por 200 soles: um grande com moldura dourada e um médio com moldura rústica. O Edigar acabou comprando um quadro médio também. Os quadros estavam sem a assinatura do pintor, pois ele também os vendia para galerias. Então, deixamos o endereço do hotel onde ele nos entregaria os quadros à noite, depois de assiná-los e colocar as molduras escolhidas por nós.

Já eram quase duas da tarde (4 da tarde no fuso horário brasileiro) e estávamos famintos. Pegamos um taxi até o hotel, guardamos as compras e almoçamos quase em frente, onde eu já havia almoçado antes. Cardápio: Pollo com papas fritas y ensalada. Apesar de a viagem ser marcada pela forte presença de frango e batata na dieta dos bolivianos e peruanos, a comida desse restaurante me fez lamber os beiços, pois era muito gostosa, bem servida e barata. Fiquei bem cheio e com vontade de deitar, mas eu só tinha o resto da tarde para conhecer a grandiosa Cusco.

No hotel, encontrei a Stéphannie e o Ulysses e fomos até o museu pré-colombiano. No caminho, paramos na bilheteria da catedral para perguntar o valor do ticket de entrada, pois eu queria conhecer algumas igrejas quando saísse do museu, onde havia algumas meninas muito bonitinhas que vendiam dedoches. Apesar de não ter comprado nenhum, eu brinquei tanto com as meninas que elas ficaram minhas amigas e foram nos seguindo até o museu. A entrada do museu custava 10 soles, se não me engano, mas como não havia controle na portaria e nenhuma pessoa fiscalizando, acabamos conhecendo o museu de graça. Não tinha muitas coisas interessantes nesse museu além de peças usadas por civilizações pré-colombianas que habitaram o Peru. Sobre os incas não tinha quase nada. Pelo menos fiz algumas amigas.

Ao sair do museu, logo do lado direito, tem uma pequena praça do Colégio Real São Francisco de Borja, fundado em 1621, de onde se tem uma vista panorâmica da Plaza de Armas e de Cusco. Após tirar algumas fotos, parti sozinho para catedral, já que o Ulysses e a Stéphannie estavam sem grana e sem interesse para conhecê-la. Comprei um ticket por 25 soles que dava direito de conhecer a catedral, a Igreja da Companhia de Jesus, a Igreja de San Blas e o Museu de Arte Sacra.

Na catedral, em vez de seguir um pequeno grupo acompanhado de um guia, peguei um roteiro e um aparelhinho parecido com um walkman que continha todas as informações sobre a igreja, como se fosse um guia virtual. À medida que eu andava pelas zonas e altares da igreja, bastava localizar no roteiro e digitar um número correspondente no aparelho para ouvir todas as informações.

A catedral é de uma beleza única e seus inúmeros altares são deslumbrantes. As igrejas de São Francisco de Assis, em Salvador, e de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, conhecidas por serem as mais belas e com maior quantidade em ouro do Brasil, são “fichinhas” perto da catedral de Cusco, que é constituída de duas capelas laterais e a igreja central. Infelizmente é proibido tirar fotos dentro da igreja e há muitos funcionários vigiando, o que torna quase impossível tirar fotos legais. Sem me conformar em apenas ouvir o guia pelo headphone e observar a magnitude da belíssima construção católica, perguntei para uma funcionária se não existia algum material para venda, como DVD, CD ROM ou livro, contendo fotos e informações sobre as igrejas cusquenhas. Tinha somente dois livros, sendo um deles riquíssimo em fotos, mas eram caros (70 soles). A mulher, porém, me disse que tinha um documentário em DVD que possuía distribuição restrita, mas que ela poderia me vender. Falei que só tinha 5 soles no bolso (de fato não era verdade, mas era uma meia mentira, pois eu tinha outros 200 soles que seriam usados pra pagar os quadros e eu não podia gastá-los) e inventei que tinha mais 100, mas que não estavam trocados. Ela acabou aceitando os 5 soles e disse que eu trocasse o dinheiro depois e levasse mais uns 10 ou 15 soles pra ela... A coitada deve estar esperando até agora. Peguei o DVD e continuei a visita pela igreja: conheci seus inúmeros altares; a sacristia; uma sala toda em madeira trabalhada, bem no centro da igreja principal, onde fica o coro e dois órgãos gigantes; seus púlpitos lindíssimos e uma pequena sala subterrânea. O mais interessante de tudo é a imponência do catolicismo espanhol, ilustrado pela grande quantidade de ouro e prata presente nos altares e pelas várias pinturas expostas em toda a igreja.

Saí da catedral eram quase 18 horas (gastei muito tempo lá dentro), as outras igrejas e o Museu de Arte Sacra já estavam fechados e, infelizmente, só reabririam entre 8 e 9 da manhã do dia seguinte. Como sairíamos para Águas Calientes por volta das 7 da manhã, eu acabei perdendo o ticket e a oportunidade de conhecer as outras igrejas de Cusco. Dei mais uma volta pela praça, voltei para o hotel, tomei um banho e, como já eram mais de 21 horas, fiquei esperando até as 22, quando o pintor entregaria meus quadros.

Peguei os quadros, os guardei no quarto e fui para a Plaza de Armas novamente, para procurar algum lugar para comer. Como eu já estava sem grana e não queria sacar mais dinheiro, comi novamente no Bembos, onde paguei com cartão de crédito. Fui rapidamente numas boates e voltei para o hotel. Eu já estava bem cansado para ficar na rua e a viagem para Águas Calientes amanhã será bem cansativa. Estou quase chegando ao objetivo principal da minha viagem: Machu Picchu.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Viagem a Machu Picchu: 20/07/08 - 8º Dia


Chegamos a Cusco pouco antes das 6:00 e fazia um frio de congelar a cuca. Peguei minha bagagem e fui para a parte interna da rodoviária aguardar as vans que levariam o pessoal da excursão para o hotel. Enquanto esperávamos, tinha uma funcionária de um guichê que, de 30 em 30 segundos, gritava incansavelmente: Arequipa, Arequipaaaaaa. A voz daquela mulher reverberava por todo o saguão e a mensagem ficava presa em meu subconsciente. Imagina: todo mundo caindo de sono, cansado, com frio, esperando a porra da van e ouvindo uma feladaputa gritando Arequipa o tempo todo. Acho que as pessoas compram passagens da mulher só pra ver se ficam livres da sua gritaria.

A van chegou, guardamos nossa bagagem e fomos para o hotel. Como chegamos antes do previsto, o pessoal do hotel nos acomodou temporariamente em alguns quartos até as 10 horas, quando os hóspedes desocupariam os quartos que estavam reservados para nós. A primeira coisa que fiz ao chegar foi tentar dormir um pouco, mas o pessoal da excursão fez muito barulho no pátio e o quarto que eu estava era muito frio. Apenas cochilei. Como a tentativa de dormir tinha sido frustrada, eu acabei levantando umas 9 e pouco, levei as coisas para o outro quarto, que já havia sido desocupado, e fui dar uma volta pela cidade.

Na companhia do Edigar e do Nelsinho, fui direto para a Plaza de Armas, que fica bem perto do hotel. Pelo pouco que eu tinha andado eu já fiquei maravilhado com Cusco: a cidade é muito bonita, organizada, e me causou bons momentos de nostalgia. A Praça de Armas estava bem cheia, pois estava prestes a iniciar um desfile cívico, comum aos domingos. O desfile era realizado por vários grupos da cidade: exército peruano, mulheres de funcionários de alta patente do exército, crianças, alunos de escolas cusquenhas, etc. Além de muito bonito, o desfile demonstrava o elevado grau de patriotismo dos peruanos, o que me deixou, de certa forma, envergonhado pela falta de amor à pátria da maioria dos brasileiros. Durante a cerimônia dominical, os peruanos cantavam o hino nacional com muito mais vigor que os brasileiros no 7 de setembro ou em época de copa do mundo.

Andamos pela praça, assistimos ao desfile, tiramos fotos, sacamos uma grana e voltamos para o Hotel Machu Picchu, que por sinal é o melhor até agora e possui até internet para os hóspedes. Tomei um banho, arrumei minhas coisas e fui almoçar no restaurante em frente. Cardápio: Pollo com Papas fritas y ensalada. Paguei 6 soles por uma comida muito gostosa, sendo dois pedaços gigantes de frango, um prato cheio de batatas e salada à vontade com uns molhos muito bons.

Após o almoço, fui até uns mercados de artesanato procurar lembrancinhas e pinturas cusquenhas para comprar. A maioria dos mercados fica na Av. El Sol, abaixo dos Correios. O principal mercado fica no fim dessa avenida (considerando a Praça de Armas como início), em frente a um grande chafariz, onde se pode encontrar artesanato de todo tipo e bem mais barato que nas proximidades da Plaza de Armas. O mais divertido dessas andanças pelos mercados foi o bate-papo com os vendedores sobre assuntos desde futebol até geografia brasileira. A maioria das pessoas em Cusco são super hospitaleiras e educadas.

Durante o passeio pelos mercados, encontrei somente uma banca que vendia pinturas cusquenhas, mas infelizmente o dono tinha dado uma saidinha e não tinha retornado até a hora em que fui embora. Alguns peruanos tinham me informado que eu encontraria pinturas somente em San Blas, que fica acima da Praça de Armas. No caminho, tinha uma grande praça gramada onde várias pessoas aproveitavam a tarde para descansar e conversar. A praça tinha algumas pedras que possivelmente eram utilizadas em rituais incas, uma fonte inca (aproveitei para encher minha garrafa d’água) e ao lado ficava a Igreja de Santo Domingo erguida sobre o Koricancha (maior e mais impactante templo do sol do império Tahuantinsuyo que, segundo alguns cronistas, possuía as paredes de seu interior recobertas com lâminas de ouro).

Cheguei à Praça de Armas e logo de cara encontrei um pessoal da excursão que estava na parte superior de um bar dando notas para os brasileiros que passavam por ali. Realmente uma comédia. Como eu não queria desperdiçar a oportunidade de olhar os quadros, dei somente um alô para o pessoal e segui até o bairro de San Blas. Passei por ruas tipicamente cusquenhas, vi alguns muros incas e tirei fotos da famosa pedra de 12 ângulos. Em San Blas encontrei galerias e ateliês com pinturas belíssimas, mas um pouco caras. Pesquisei preços e resolvi voltar no dia seguinte com mais calma, para poder comprar quadros bonitos e com preço mais baixo. Eu já estava cansado de andar.

Voltando para a praça, passei num supermercado e comprei uma Cerveza Cusquenha, que é muito gostosa e mais encorpada que a Paceña boliviana. Fui até o bar onde estavam os colegas da excursão, mas o bar era caro e muita gente já tinha ido embora, então acabei antecipando a volta para o hotel.

Lá pelas 20 horas eu voltei para a Praça de Armas pesquisei preços de passeios para Machu Picchu, para o Vale Sagrado e para as ruínas no entorno de Cusco. O organizador da excursão, Alex, tinha conseguido o passeio para Machu Picchu por 80 dólares, incluindo: transporte, sendo a maior parte de van e uma parte de trem; hospedagem em águas calientes, com jantar e café da manhã; e deslocamento ida e volta até a entrada do parque. Eu não encontrei preço mais baixo, até porque a maioria dos pacotes incluía a entrada no parque, que já estava inclusa na minha excursão.

Quando foi umas 21 horas, eu acho, fui conhecer as famosas boates de Cusco. Primeiramente fui até a Mama África, onde encontraria todo o pessoal da excursão. No horário que cheguei à boate não estava muito cheia, mas foi enchendo à medida que foi ficando tarde. O ambiente é bem legal, dá gente de todo canto do mundo, sendo a maioria brasileira, mas não achei a Mama África tão imperdível como ouvi dizer. Lá pelo menos eu tomava uma cerveja e ganhava outra. Depois de um bom tempo, quando quase todo o pessoal da excursão estava reunido, resolvemos conhecer outras boates. Fomos em mais três boates, onde davam uma cuba libre de brinde, mas duas estavam bem vazias. A vantagem das boates e que não cobram entrada e ainda dão um drink de graça. Assim, nós ficávamos zanzando de boate em boate só para ganhar bebidas. A última que nós fomos, chamada Mithology, foi a melhorzinha em minha opinião, pois tava bem cheia, tinha um ambiente bacana e músicas mais agradáveis. Este último quesito, aliás, é algo que os cusquenhos não têm muita noção: está tocando uma música eletrônica e eles já mudam pra um axé daqueles do cd Axé Bahia 98, depois colocam forró, em seguida um rock 80’s. Não há uma seqüência definida de ritmos nas boates e rola mais música (dependendo do ponto de vista, não pode ser chamado de música) brasileira que qualquer outra coisa. Eu esperava mais das boates cusquenhas...

Depois de muitos drinks eu resolvi voltar para o hotel e descansar. No caminho ainda parei para comer numa rede de fast-food peruana, chamada Bembos, onde, apesar de ser padronizada como todas as redes de comida rápida, o sanduíche era muito gostoso e bem grande. De volta ao hotel, assisti um pouco de televisão e fui dormir. Dormir em Cusco... Parece mais um sonho. Poxa, muito legal essa cidade. Amanhã espero curtir mais. Buenas Noches.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Viagem a Machu Picchu: 19/07/08 - 7º Dia


Mais uma noite de sono tranqüila e relógio despertando cedo. Levantei por volta das 7:00, tomei café e fiquei esperando o pessoal da excursão para irmos até a Ilha do Sol: maior ilha do Lago Titicaca, onde há várias ruínas tiwanaku e muita beleza. Saímos as 8:30 para o cais, de onde saem os barcos até a ilha. Pagamos um pouco caro pelo passeio (80 bolivianos, incluindo o barco, guias, entrada na ilha e almoço), mas eu estava muito cansado no dia anterior para procurar agências de turismo que oferecessem o pacote por um preço mais baixo. Sei que não pagaria mais que 30 bolivianos pelo mesmo translado. Pelo menos o passeio era particular e poderíamos programar nosso próprio tempo, já que sairíamos para a fronteira peruana as 16:00.

Nosso barco tinha dois andares e a parte de cima não tinha cobertura, o que tornava o passeio super agradável. Eu fui na parte superior e me diverti bastante com o pessoal da excursão. O Lago Titicaca é bem parecido, em alguns momentos, com o Mar Egeu, na Grécia, devido a cor de sua água, suas várias ilhas, seu relevo e seu clima seco. Só conheço o Mar Egeu por fotos, vídeos e livros, mas achei parecido com o Titicaca.

Depois de quase uma hora, chegamos ao lado sul da Ilha do Sol, onde avistamos algumas ruínas e a escadaria que dá início à trilha até a parte norte. Infelizmente não tínhamos tempo para atravessar a ilha a pé, então fomos direto para a parte norte. No caminho vimos alguns barcos feitos de totora (vegetação típica do lago) e moradores da ilha lavando roupas na beira do lago. Minutos depois já estávamos no lado norte da ilha.

Fomos divididos em dois grupos e cada um seguiu com um guia até as ruínas tiwanaku e a pedra do sacrifício. A ilha tem cerca de 3000 habitantes e passamos por algumas casas e comércio dos moradores, onde pudemos ouvir algumas pessoas falarem Aimara (língua nativa do povo Tiwanaku). Logo no início da trilha passamos por uma praia muito bela, e que nos convida a dar um mergulho de tão calma e limpa que é sua água, mas sua temperatura em torno de 12 graus me fez mudar de idéia. Durante a subida da trilha, vimos algumas plantas (não lembro os nomes) que são típicas da região, e possuem diversas propriedades medicinais, desde dor de estômago até mal de altitude. Tem uma plantinha que tem o cheiro super gostoso e dá vontade de cheirar o tempo todo. Nosso guia Benedito também nos contou que os peixes comuns do lago estão desaparecendo, pois estão sendo comidos por peixes maiores, como a truta, que foram trazidos pelos americanos.

Seguimos a trilha até um ponto mais alto, onde avistamos boa parte da ilha. Há vários degraus feitos na terra, sendo muitos deles feitos pelos antigos habitantes da ilha, e que são utilizados pelos moradores locais para o plantio. Eles utilizam a rotação de culturas, plantando durante sete anos e deixando a terra descansar por outros sete anos. Pudemos avistar, também, a região onde se encontra uma ilha submersa onde viviam os Markapampas (povo que faz parte do tronco Tiwanaku).

Depois de uma boa caminhada, chegamos até o altar de sacrifício: uma mesa de pedra onde os pré-incas realizavam sacrifícios ao Deus Sol, no dia 21 de junho, durante o solstício de inverno. Em frente, existe uma grande pedra com formato de um puma e logo adiante há várias construções de pedra. É fantástica a sensação de ter contato com uma cultura tão rica e tão remota, mas que permanece viva para os moradores da ilha. As casas são feitas de pedras perfeitamente encaixadas através de complexas técnicas construtivas. Muito legal.

Aceleramos o passo e partimos de volta para a entrada da ilha, onde almoçaríamos. No caminho, quando passava pela praia, ainda tive tempo de ajudar uma garotinha que estava aos prantos porque não conseguia tirar o barco da água. Eu não podia deixar de ajudar aquela garotinha que possuía um olhar tão carente. Dobrei a barra da calça, atolei o pé na água e puxei o barco para a areia. Minha boa ação do dia já estava feita.

Ao chegar, fui direto para o restaurante, onde almocei arroz, cenoura, vagem, purê de batata e uma truta deliciosa. Agora entendo porque a truta do Lago Titicaca é tão famosa. Enquanto os outros almoçavam, aproveitei para ir até o museu da ilha, onde há restos mortais e instrumentos utilizados pelos Markapampas. O museu não era tão interessante, mas estava incluso no ticket de entrada na ilha.

Reunimos o grupo e pegamos o barco de volta para Copacabana. Apesar de um pouquinho de frio que fazia, o sol estava bem forte (isso não significa que estava quente) e acabei queimando bastante o rosto e as mãos. No meio do caminho, três corajosos da excursão, Augusto, Gildete e Valdivan, pediram para parar o barco e deram um mergulho no lago... Foi o tempo de pular na água e voltar para o barco. Segundo os aventureiros, a água era tão gelada que dava câimbra até no pescoço. Haja animação.

Ao chegar a Copacabana, pegamos nossas coisas e embarcamos em três vans até a fronteira do Peru. Carimbamos o visto boliviano, preenchemos o novo visto e... uhuuu! Estávamos no Peru. Algumas pessoas fizeram câmbio na fronteira, mas resolvi deixar para sacar o dinheiro quando chegasse a Puno ou Cusco.

Pouco mais de três horas de viagem e estávamos em Puno. Tínhamos pouco mais de uma hora na cidade até pegarmos o ônibus para Cusco, então aproveitei esse tempinho e peguei um taxi até o centro. Puno é muito bacana, possui muitas lojinhas de artesanato com preço baixo, muitos bares e pubs legais, prédios históricos bonitos, mas o tempo que tinha foi suficiente para dar somente uma volta rápida, comer alguma coisa e voltar para a rodoviária. Queria muito ter ficado algumas horas em Puno durante o dia, para conhecer a Ilha de Uros (ilha flutuante feita de totora, onde vivem várias pessoas) e as igrejas da cidade.

Voltei para a rodoviária, comprei uma chompa (casaco) de lã de llama por 25 soles (pouco mais de R$13), peguei minhas coisas e fui para o local de embarque. No Peru a rodoviária e o embarque são bem mais organizados que na Bolívia. Ao entrar no ônibus não durou muito tempo e eu já estava dormindo. O cansaço era grande. Até que enfim Cusco está chegando... eita cidade longe!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Viagem a Machu Picchu: 18/07/08 - 6º Dia


Depois de uma agradável noite de sono, meu celular me atormentou logo às 7:30 da madrugada. Eu estava muito cansado, mas não queria perder a manhã dormindo e seria minha única oportunidade de fazer compras em La Paz.

Tomei o desayuno (sem graça e sem opções, pra variar) e fui até a Calle Eloy Salmon, onde encontraria produtos eletrônicos. Eu queria comprar um cartão de memória para meu celular e olhar preços de câmeras e filmadoras. No caminho, passei por várias ruas onde não circulavam carros e imperavam os camelôs. Uma diversidade de produtos e cores em meio a inúmeras pessoas que passavam pela região. Bancas onde se preparavam alimentos sem a menor condição de higiene também faziam parte do cenário.

Ao chegar à rua dos eletrônicos, grande parte das lojas ainda estavam fechadas. Diferentemente do Brasil, as lojas na Bolívia não têm horário fixo para abrir e fechar. O comércio geralmente abre às 9:00, fecha para o almoço e para um cochilo dos funcionários (é um hábito comum da população), e encerra suas atividades entre 19 e 20:00. O horário não é seguido à risca, podendo haver lojas que abrem após as 9:00 e que fecham mais tarde também. Enquanto aguardava, tomei um taxi e fui até a Plaza Murillo conhecer a catedral, o palácio do Evo Morales e a sede administrativa do governo boliviano.

A praça Murillo é muito bonita e possui diversos pontos histórico-culturais para conhecer, além de inúmeras palomas (pombos). Conheci um museu de arte que possuía pinturas cusquenhas belíssimas, onde aproveitei para comprar postais com fotos de algumas telas. Perto da praça também fui no Shoping Norte, onde comprei uma mochila da Rebook por 200 bolivianos na loja da Fair Play (aproximadamente R$45, e que não sairia por menos de R$140 no Brasil), já que a minha estava toda rasgada, e uma jaqueta de couro para meu pai por 300 bolivianos (aproximadamente R$68). Queria ter comprado um tênis também, mas nenhum dos modelos que gostei tinha meu número.

Já eram 11 horas, o pessoal da excursão deveria se encontrar no hotel meio dia e eu ainda não havia olhado os eletrônicos. Peguei um taxi de volta para a Calle Eloy Salmon, olhei muitas coisas, mas acabei não comprando nada. Celulares e câmeras digitais menos sofisticadas possuem ótimos preços, mas o cartão de memória que eu precisava era mais caro que no Brasil e as filmadoras eram pouco abaixo do preço brasileiro.

De volta ao hotel, arrumei rapidamente minhas coisas e almocei no restaurante do Hotel Condeza. Comida sofisticada e não tão gostosa, além de ser mais cara que em outros lugares. Fora o péssimo atendimento. Fomos para a rodoviária, onde o ônibus para Copacabana nos esperava.

A estrada é repleta de paisagens belas. Quando vi o Lago Titicaca pela primeira vez até achei que fosse o mar, devido sua grande extensão: são 8549km², distribuídos em 204km de comprimento por 65km de largura. A parte mais emocionante da viagem foi a travessia de balsa no Estreito de Tiquina, que é feita numa balsa de madeira que mal cabe o próprio ônibus e os passageiros atravessam em pequenas embarcações que cabem umas 20 pessoas. Parece que o ônibus vai cair na água.

Pouco tempo depois da balsa, chegamos a Copacabana, por volta das 17:30. Fomos direto para o Hotel Mirador, que possui ótimos quartos, café da manhã de sempre e uma vista privilegiada do lago. Assisti o pôr-do-sol no lago diretamente da janela do meu quarto. Sem dúvida foi um dos mais bonitos que eu já vi. Desci e fiquei conversando com o Ulysses e a Stéphannie na praia por alguns minutos, até que o crepúsculo desaparecesse e a noite chegasse.

Mais tarde, após o banho, fui para um barzinho muito legal, decorado com abajures de papel, paredes e quiosques de totora (espécie de capim aquático comum no Lago Titicaca) e quadros feitos de lã de llama. Ambiente agradável, som bacana, comida gostosa e barata. O dinheiro na Bolívia rende pra caramba! Ainda passei numa pub onde alguns meninos da excursão iam tocar, mas o lugar era impossível de se respirar devido ao cigarro e eu já estava com sono. Amanhã iremos conhecer a Isla Del Sol, que é a maior ilha do lago e possui algumas ruínas. Boa noite e até amanhã.