terça-feira, 29 de junho de 2010

Torcendo Contra



Há alguns anos eu venho sendo hostilizado por amigos e familiares por torcer contra a seleção brasileira de futebol. Minha atitude não é simplesmente gratuita ou oportunista, muito menos quero criar a imagem do “cara do contra”. Tudo isso se deve ao caráter político adquirido pela CBF e pela gama de interesses que envolvem a convocação de jogadores e a formação do time.
Desde a Copa de 1998, sobretudo após o mundial de 2002, a seleção brasileira deixou de ser apenas um time de futebol do Brasil e se tornou uma instituição burocrática que atende a interesses políticos de mandatários clubísticos, empresários de jogadores e patrocinadores. Esse fator tem me deixado cada vez mais desgostoso com o futebol brasileiro e com a seleção, o que me força a torcer contra em alguns momentos.
Não sou hipócrita para deixar de torcer completamente pela seleção brasileira, mas o gostinho de torcer, principalmente nas Copas, não tem sido mais o mesmo. A falta de garra e a quase extinção daqueles jogadores que realmente vestem a camisa do Brasil, nesse esporte tão importante para os brasileiros, desmotiva qualquer torcedor. Na era Dunga então, com esse tanto de jogador meia-boca, sem técnica, sem raça e basicamente com todos os jogadores jogando fora do país, fica mais difícil ainda torcer a favor.
Li um texto essa semana na revista Caros Amigos que resume brilhantemente o meu pensamento sobre a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010 e por isso resolvi postá-lo. Segue:

Por Guilherme Scalzilli

Vai começar o espetáculo do ufanismo histérico. Mídias de todos os suportes serão tomadas pela publicidade oportunista do verde-amarelo. Jornalismo e marketing, amalgamados por interesses comuns, fornecerão os delírios de união e superioridade que o público precisa para engolir a farsa consumista. Milícias uniformizadas tomarão ruas e bares, assegurando a adesão das massas ignóbeis à ditadura do hexa.
Pois não contem com este humilde escriba. Torço apaixonadamente para o fracasso da seleção brasileira na África do Sul. Quanto mais humilhante e precoce, melhor. De preferência jogando mal, tomando olé, sob apupos das torcidas e o escárnio da crônica internacional. Que os falsos craques sejam desmascarados, patrocinadores amarguem prejuízos, apresentadores e comentaristas engasguem na desmoralização dos seus favoritismos.
A escolha soa impopular e arriscada, mas deveria constituir uma demonstração de coerência para os apaixonados pelo esporte. O time da CBF personifica os vícios e artimanhas que envenenam o futebol nacional. Ali podemos entender a pauperização dos campeonatos regionais, a destruição de clubes interioranos, o êxodo de talentos, o esvaziamento dos estádios, a imoralidade dos bastidores.
Uma seleção formada quase exclusivamente por jogadores de times estrangeiros não possui qualquer identidade com o torcedor brasileiro. Eles nem ao menos são melhores do que dezenas de atletas que jogam no país, e que formariam uma equipe mais entrosada, motivada e empolgante. Mas, claro, Dunga não pode privilegiar a qualidade. Sua caricatura de sargento brucutu ameniza as motivações financeiras da convocação, que atende aos interesses de empresários, cartolas e especuladores.
O legítimo espírito patriótico deve repudiar esse empreendimento nefasto e sua utilização da retórica nacionalista em benefício de corjas obscuras.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Avanços e Impasses da Democracia no Brasil



 Por Itami Campos

Falar em democracia é um tanto difícil, pois os conceitos e referências são diversos, além de existirem expectativas diferentes quanto aos resultados de um regime democrático. Embora seja o ideal democrático algo a se concretizar, torna-se possível trabalhar a realidade e os processos sociais e políticos que apontam na direção de um regime democrático. Neste sentido, o Estado de Direito, as liberdades individuais e os processos políticos apresentam-se como eixos em que se assentam a democracia.
Para Norberto Bobbio, democracia pode ser caracterizada por um conjunto de regras que estabelece quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos. No mundo moderno, as Constituições definem e estabelecem esse conjunto de regras. Embora isso aponte um rumo, há imprecisões, pois mesmo os regimes autocráticos forjam suas Constituições e estabelecem suas regras.
Por isso, o direito à liberdade, inerente aos indivíduos e não concedida, vai ser o substrato do Estado de Direito que assegura a forma democrática de governo. No caso brasileiro, o movimento contra a ditadura nos anos 1970 e 1980 foi fundamental para que a liberdade fosse assegurada ao mesmo tempo em que se amplia a cidadania.
Com base nestas considerações é que se pode afirmar que foram muitos os avanços institucionais nesses 25 anos desde o colapso do regime militar em 1985. As Diretas Já e a Nova República apontaram nova direção. Contudo, a instabilidade institucional perdurava sob uma economia inflacionária e em permanente crise. A estabilidade trazida pelo Plano Real em 1993, no governo Itamar Franco, e mantida nos mandatos de FHC e Lula, foi fundamental para a democracia no Brasil.
Além disso, o alargamento da participação política, haja vista que são mais de 130 milhões de eleitores, a incorporação de novos segmentos sociais no mercado e na vida política fortaleceram a base social da política brasileira.
Não se pode considerar que se vive no melhor dos mundos. A desigualdade é muita e tem-se muito a caminhar para superar a miséria e a pobreza. A educação no Brasil é deficiente, além de não abranger toda a população, não qualifica para as exigências da atualidade. A saúde é também precária. Embora o SUS seja considerado uma política pública avançada, são muitos os problemas de saúde que o povo brasileiro enfrenta. Faltam recursos e condições para a universalização da saúde pública. A segurança pública exige soluções e políticas inovadoras, além da militarização de setores da sociedade.
As reformas políticas poderiam ajudar na correção dos muitos problemas políticos que estão aí a olhos vistos. A representação política, a estruturação partidária e o sistema eleitoral demandam mudanças que o governo e o Congresso recusam-se a encaminhar. Interesses consagrados dificultam e mesmo impedem qualquer proposta ousada e necessária para corrigir os desvios da política brasileira. As últimas alterações mais consequentes partiram da Justiça, do STJ e do TSE, já que os legisladores mantêm-se indiferentes às mazelas na política brasileira.
Talvez, um dos maiores problemas que se apresenta neste caminho seja a corrupção. A impunidade e a lentidão na punição dos envolvidos em corrupção apresentam-se como estímulo para mais envolvimentos de políticos e governantes em desvios de recursos públicos, superfaturamento de obras e coisas correlatas. Além da impunidade, a forma de financiamento de campanhas políticas parece estimular os desvios de recursos para caixas dois. A própria Justiça Eleitoral se manifesta sem condições de interditar e punir os frequentes atos de corrupção.
As denúncias de improbidade, desvios de recursos públicos, superfaturamento de obras e tantas outras formas de corrupção repercutem de forma negativa na política. Em primeiro lugar, pela generalização de que toda atividade de governo e de que todo político sejam corruptos. Depois, fazendo escola, ou seja, estimulando o mau-caratismo como conduta na política. Daí o desestímulo de participar ativamente da política e mesmo a rejeição a quaisquer envolvimentos na política. Assim, muitos são os questionamentos sobre o caráter republicano do Estado brasileiro.
O viés patrimonialista persiste, pois governantes e administradores públicos quase sempre se conduzem como se fossem donos dos bens e recursos que lhes cabem gerir. Esses são obstáculos que a democracia enfrenta no Brasil.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Botequim: Palco de Cultura, Refúgio e Resistência... e de História



Quem nunca criou ou ouviu uma filosofia de botequim? Então, ao menos, compartilhou estórias, discutiu política e presenciou cenas hilárias num boteco? Esse ambiente de socialização e diversão dos dias atuais também já foi importante palco da história do Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX, durante a belle époque. O livro de Sidney Chalhoub, Trabalho Lar e Botequim, escrito a partir da análise de relatos policiais e processos criminais, é um delicioso aperitivo pra quem deseja conhecer o cotidiano dos botequins cariocas e seu papel na formação da cultura popular.
A obra de Chalhoub trata, fundamentalmente, da constituição de uma nova ordem social durante os primeiros anos da República Velha no Rio de Janeiro, pautada, sobretudo, no lazer popular da classe trabalhadora, nas ruas, nos botequins e na repressão policial. O título de um dos capítulos, “matando o bicho e resistindo aos meganhas”, demonstra claramente os costumes populares em tomar pinga e resistir aos policiais da capital federal no início do século XX, além de abordar as rivalidades étnicas e nacionais arraigadas na mentalidade popular.
        Segundo Sidney Chalhoub, a maior integração do Brasil à economia capitalista, especialmente após a emancipação dos escravos e o advento da República, contribuiu intrinsecamente para a modificação da sociedade carioca no início do século passado, principalmente com o aumento das exportações de café. A partir daquele momento, a antiga capital federal se tornou um grande centro cosmopolita intimamente ligado à produção e ao comércio europeu e americano. Esse fato fez com que o prefeito da velha capital, Pereira Passos (1902 - 1906), em parceria com o presidente Rodrigues Alves (1902 - 1906), adotasse uma estrutura de poder caracterizada por um cosmopolitismo desmedido e agressivo ao realizar a revitalização e urbanização do centro do Rio de Janeiro, alargando avenidas, demolindo cortiços e expulsando a população pobre para as periferias. Enfim, a adoção de padrões europeus e elevação da burguesia comercial começaram a fazer parte da nova organização social carioca.
        A elite da capital pretendia não só impor mudanças de ordem material, mas criar um novo modo de vida urbano, baseado na sociedade parisiense, desconsiderando os valores culturais dos setores menos favorecidos da sociedade. Nesse sentido, os policiais, caracterizados por Chalhoub como “meganhas”, tiveram papel fundamental na instauração da “ordem”, corroborando a imposição do assalariamento ao trabalhador pela vigilância constante do aparato policial. Eram considerados vadios todos aqueles que se encontravam nos botequins e nas ruas, e não conseguiam provar sua condição de trabalhadores.
        Entretanto, segundo relatos pontuados por Chalhoub, os meganhas não estavam nas ruas para arbitrar os conflitos, mas para reprimir os pobres. Era comum o forjamento de declarações nos inquéritos pelos policiais a fim de incriminar humildes trabalhadores. Isso gerava uma falta de confiança na imparcialidade da justiça. Por esta razão, os populares resistiam às autoridades policiais e acreditavam que estes atendiam a interesses plenamente burgueses.
        Para muitos populares, o trabalho e o lazer se misturavam e, por isso, o botequim se caracterizava como campo onde eram vividos conflitos e tensões cotidianos. Dessa forma, os populares envolvidos em processos judiciais sempre procuravam se justificar como humildes trabalhadores e chefes de família. Porém, essas ações nem sempre eram aceitas pela justiça, que era um órgão que representava os interesses do governo republicano e da alta sociedade.
        O autor condena a imposição dos padrões de comportamento da classe dominante aos populares. Chalhoub procura, ainda, demonstrar que a desconfiança dos populares em relação aos policiais teve um sentido cultural e enraizado no modo de vida da classe trabalhadora: eles tinham suas próprias normas e noções de justiça.
        O botequim era como um “observatório popular”, sendo um ponto privilegiado para estudo dos padrões de comportamento do povo. Dessa maneira, o boteco era palco de rixas desencadeadas pelos três pilares analisados no livro de Chalhoub: o trabalho, o amor e o lazer. Esses conflitos eram resultados da cultura de homens comuns e que agiam de acordo com regras de conduta preestabelecida, pautadas principalmente no machismo e no etnocentrismo.
        Finalmente, podemos identificar claramente a posição de Chalhoub em relação aos vencidos (populares), ao mostrar como ocorreu a formação de uma nova ordem social e o posicionamento da polícia e da burguesia sobre o cotidiano dos trabalhadores urbanos, que utilizavam o botequim como refúgio para os problemas de praxe. Além disso, Trabalho, Lar e Botequim tenta mostrar as contradições de um período em que o surgimento de prédios modernos conviveu com a exclusão social e a insegurança de um poder público municipal que custava a se impor.
        Assim, é através da história do povo, onde os operários, vagabundos e pessoas comuns são protagonistas, ambientada no botequim, como local de refúgio e lazer, que Chalhoub escreve a História Social da Primeira República do Brasil.
        Então, paremos por aqui e vamos pro boteco fazer história...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A TV de ontem e de hoje

Ciberdependência - Um dia sem computador



Por Washington Araújo

O que fazer num dia sem computador? Existe um mundo de coisas contido nesta pergunta. Primeiro, e antes de tudo, se trata de um dia sem cliques. Sem Google, sem Reuters, sem BBC de Londres, sem Wikipédia, sem Gmail, sem Kotscho, sem UOL, sem YouTube, sem Josias, sem Word, sem Photoshop, sem copy e paste, sem zoom, sem abrir nada, sem fechar nada, sem salvar nada. Sem mensagem para Luiz Egypto. Sem digitar nada. Sem pesquisar no Houaiss, no Aurélio. Sem acessar CartaCapital. Sem queimar disco, sem usar este Nero que homenageia aquel´outro que, num dia enfadonho, tocou fogo em Roma. E, no meu caso, sem atualizar o blog Cidadão do Mundo. E sem canibalizar pensamentos completos a fim de contê-los nas cercanias farpadas do Twitter.
E vejo que tantas são as coisas que faço com o computador ligado. E são "coisas" tão rotineiras que, somente ao pensar em um dia sem computador, me dou conta do muito que é minha interação, minuto a minuto, hora a hora, com o computador. Ficar um dia sem computador é como ficar um dia sem enxergar ou sem comer, ou sem ouvir, ou sem pensar? O mundo que vejo é aquele que diz presente mediado por um monitor de 24 polegadas. O que cabe no monitor é do tamanho do mundo, vasto mundo, que vejo. Mas será mesmo este o mundo em que desejo viver?

Vocábulos dicionarizados

E, no entanto, reza a lenda que medos, persas e fenícios nasciam, cresciam e morriam sem ao menos fazer uso de computador. Estes povos não abriam programas, percorriam livros. Não salvavam documentos, acessavam memórias. Não digitavam documentos, escreviam mensagens. Não clicavam na tecla "enviar" para que as notícias viajassem o mundo, deslocavam-se a agências dos Correios, escolhiam o selo, lambuzavam a goma arábica, observavam o envelope enrugar, criar ondulações, pagavam e saíam felizes da vida por saberem que a mensagem já estava "a caminho". A lenda informa também que descendentes de gregos e romanos não sabiam o que seria passar um par de horas por dia interagindo com amigos no Facebook e no Orkut, adicionando fotografias num e noutro, apagando mensagens cheias de emoticons, recebendo cutucadas virtuais, esboçando sorrisos, devolvendo cutucada virtual e aferindo quem está online.
O tempo passou, testemunhou as revoluções científicas de Thomas Kuhn e desaguou em nossos dias. Eu que era tão proficiente em inglês, que sabia muito bem afirmar the book is on the table e me descubro hoje executando dezenas de rotinas no idioma do bardo Shakespeare. Estranhando o fato que o português e tantas outras línguas eram simplesmente marginalizadas na linguagem dos que interagem com computadores fui ao Aurélio. Para minha surpresa constatei que já se encontram dicionarizados vocábulos como deletar, escanear, hardware, software, site, home page, online. E se antes marcava com alguns amigos uma tarde de vôlei, uma pelada, uma partida de xadrez, hoje assisto o campeonato de vôlei, a pelada e a partida de xadrez no próprio computador. O xadrez perdeu terreno e o barato mesmo é jogar pôquer online.

O mundo virtual é muito real

Velhos tempos, belos dias. Hoje não perco tempo marcando encontros, ligo o computador e confiro quem está online. Para uns, fico invisível, para outros, revelo-me de corpo inteiro, com direito a imagem e a voz. Encontro todo mundo ao mesmo tempo e a qualquer momento. O bar da esquina, o encontro na praça ou no shopping foi substituído sem dó nem piedade por encontros virtuais: você fala de lá que falo de cá, ri de lá que rio de cá. E se o monitor não é dos melhores nem consigo mais distinguir o brilho dos olhos, o sorriso no canto da boca, o ar de cabeça nas nuvens que tantos amigos meus, apesar dos anos, ainda conservam como característica mais gritante.
Antes, ouvir a fala presidencial era uma espécie de acontecimento. Havia toda a tal da liturgia do cargo. E isso acontecia em momentos especiais, dentre estes na noite do 7 de setembro. E tudo era visto através daquela TV de válvula, marca "ABC – A voz de ouro", com a imagem subindo continuamente na vertical ou teimando em aparecer na diagonal. Hoje esbarro com a fala presidencial do Lula falando diretamente da Chechênia, Davos, Tel Aviv, Santiago de Cuba e do Chile. É só gastar alguns breves minutos escolhendo qual filtro usar, o do Universo Online ou o do Terra, da BBC ou da Reuters...
Chefes de Estado eram uma espécie de semidivindade, mais que humanos, menos que deuses, jamais se envolviam nisso que chamamos de gafes. Não existia CQC nem Pânico na TV. Hoje, o que mais tem é coleção de gafes presidenciais, tombos do Caetano Veloso no Rio e em São Paulo, em Salvador e em Santo Amaro da Purificação, áudios do Boris Casoy criticando simpáticos lixeiros em comercial de Ano Novo. É só procurar no YouTube. E ainda escolher quem deve estar passando por maus momentos na cena internacional, associando substantivo e nome próprio, por exemplo: Gafes Lula/ Gafes FHC/ Gafes Berlusconi/ Gafes Obama/ Gafes Sarkozy/ Gafes Clinton/ Gafes Kirchner.
Milton Nascimento, que gravou os ótimos álbuns Clube da Esquina I e II, provavelmente gravaria agora Clube Cidadania Mundial I e II. E existem opções demais para se usar o tempo e espectador de menos. Explico. O computador nos franqueia o acesso a tal multiplicidade de programas e assuntos que perdemos mais tempo vendo o que existe disponível do que indo a fundo num ou noutro programa. Se temos uma queda por arte na Renascença, com meia dúzia de cliques adentramos as galerias virtuais do Museu do Vaticano, de Florença, de Veneza, de Roma. Se Picasso nos faz a cabeça, o negócio é encontrar o trajeto que nos leva ao site virtual do Museu Reina Sofía, em Madri. Neste, encontramos nada menos que Guernica.
O balão de oxigênio, símbolo da manutenção da vida em nossa memória que vara séculos, poderia ser substituída pela energia que mantém ligado o computador. Se há um `apaguinho´, a falta de energia por breves minutos, somos imediatamente desconectados do mundo virtual. E esse mundo é mais real que virtual para extensas legiões de contemporâneos nossos.

"Seja lá como for..."

Sei que existe o Dia Mundial Contra o Tabagismo e também o Dia Mundial Sem Uso de Carro. Mas desconheço a existência de um Dia Mundial Sem Computador. Considero válido passar por essa experiência. Sem cigarro, conseguimos passar muito bem. É inegável. Sem a avalancha de carros transtornando a paisagem urbana (e fazendo aflorar nossas neuroses mais profundas), também conseguimos conceber vida possível. E... sem computador?
Lembro da criança nascida e criada em prédio de apartamentos. Em suas primeiras férias à cidade de interior onde nasceram seus pais, deparou com uma galinha e qual não foi seu encantamento em anunciar à mãe que acabara de ver uma... knorr! Conseguiríamos apreciar o canto dos pássaros, emitido pelos emplumados ou só seríamos receptivos a este mister se o canto tivesse como origem a pequena caixa de som que fica ao lado do computador?
Saberíamos passar um dia sem teclar nada? Bateria o desespero humano com a força dos tsunamis da alma? Ou, então, seríamos tragados pelos versos da canção: "E assim, seja lá como for/ Vai ter fim a infinita aflição/ E o mundo vai ver uma flor/ Brotar do impossível chão"?
Matrix é aqui.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Televisão e os Valores





          Nos últimos tempos, a televisão tem sentado no banco dos réus como a principal suspeita pelas inversões de valores, violência e descalabros sociais. Defensores afiados em suas críticas contra os programas televisivos tem anunciado a presença de uma sociedade acéfala, incapaz de refletir e analisar os programas assistidos, aceitando compassivamente todas as idéias propostas por esse instrumento de comunicação. Os brados são muitos e chegam a propor, de forma saudosista, programas antigos que não exponham e não deturpam a moralidade. Gritam, os moralistas, que os adolescentes são as principais vítimas, pois são os mais suscetíveis a essa ameaça. Dizem também, que a camada popular, porque ignorante e não dotadas de senso crítico, são vítimas dos interesses megalômanos e capitalistas das grandes corporações e empresas capitaneadas pelas classes ricas. 
          Mas até que ponto tudo isso é correto? Por que atribuir à televisão a culpa por todas as mazelas sociais? Então, a educação, a moralidade, a ética e os valores em geral foram transformados pelos programas de televisão? Eles têm tanto poder assim? E por que não fazer uma análise mais profunda e compreender se os pressupostos elencados acima são realmente validados?
          Essa discussão com toda certeza daria muitos elementos e, por isso, seria demasiadamente longa. No entanto há como discutir, refutar ou aceitar certos pressupostos. Não devemos delegar à televisão toda a dificuldade e problemática presente em nossa sociedade. Não devemos creditar o sucesso da televisão e a situação social, econômica e cultural de uma camada populacional à ignorância e falta de senso crítico. Não devemos generalizar e indicar que todos os programas televisivos são de mau gosto e, por fim, mesmo aceitando que a televisão traz certos malefícios aos adolescentes, ela também é (e poderá ser) um grande instrumento de educação, cultura e lazer. 
          A televisão é um instrumento e, como todo instrumento, seu efeito será de acordo com o uso que se faz dela. Se abandonarmos o pensamento mítico e usarmos de nossa criticidade, poderemos "despersonificar" o aparelho “televisão” e atribuir aos verdadeiros culpados as transformações que vivenciamos. Somos nós que devemos cobrar qualidade e, quando não há, somos nós que devemos nos negar a participar. Agora, participamos quando reconhecemos que algo faz sentido e parte de nossa vida. Oras, se encontramos audiência para a banalidade, será que a banalidade não está presente em nossa vida e fazendo sentido? Será que a televisão não vem apenas refletir o que já está presente em nós. A dimensão criativa da televisão não é tão grande a ponto de transformar toda a sociedade num sopro só. Senão, seria muito fácil "consertar". Então exibiríamos sempre um programa considerado de "qualidade" e a sociedade tornaria uma sociedade de "qualidade". Mas não é bem assim que funciona. Há muito elemento envolvido. É apropriando-se adequadamente de um instrumento que teremos respostas adequadas. E os adjetivos "adequados" e "qualidade" são muito pessoal, subjetivo que não me atrevo a determinar padrões. O que para mim é qualidade, para outros, não.
          Se somos críticos a ponto de reconhecer a baixa qualidade, a violência e as inversões de valores em determinados programas televisivos, devemos ser críticos o bastante para reconhecer que muitos programas trazem neles uma consciência coletiva do que somos, de como estamos e para onde vamos. O que isso indica? Que diante desses programas podemos fazer várias e sérias reflexões sobre a nossa realidade em vez de negar-se única e exclusivamente em assistir.
          Agora, seria de um mau gosto e acrítico culpabilizar a camada popular pelo sucesso dos programas de "baixa qualidade" devido à "ignorância" e falta de "cultura". Quem, ainda hoje, usa esses adjetivos para indicar uma determinada classe ou povo, tem muito que aprender e conhecer melhor esse mesmo povo. Não podemos aceitar esse discurso reducionista e generalizante, pois quem carrega esse discurso tem pouca vivência e desconhece a sabedoria popular e as habilidades forjadas na vida de um ser humano. Como ser humano, não devemos repudiar ou excluir outro humano, diferenciando pelo poder intelectual, pelo grau de erudição ou escolarização. Esse artifício é o mesmo usado para encontrar, (não sei se é o termo adequado) uma raça perfeita. Como crítico, defensor da ética humana, não aceito ouvir um falar tão preconceituoso e cheios de maus ditos.
          Se nossa sociedade não caminha bem, se não temos mais respeito um pelo outro, se nossa cultura decaiu e nossa moralidade extinta, se nossos filhos não sabem mais respeitar os valores que tanto preservamos e se a nossa vida anda muito complicada, não é culpabilizando a televisão que teremos uma resposta. Não teremos enquanto usarmos do artifício da culpabilização. Porque culpando alguém, tira-nos a responsabilidade de se envolver e de, junto, buscar uma solução. Porque culpando alguém ou alguma coisa, podemos, temporariamente, dizer-nos que estamos livre da responsabilidade dos efeitos que a sociedade nos apresenta. E isso não é ser crítico e sim comodista. Não é ser sábio e sim traidor.


domingo, 1 de novembro de 2009

Redescobrindo a Segunda Guerra




Em primeiro de setembro, foram completados setenta anos do início da Grande Guerra e, por isso, meu post é dedicado a esse acontecimento, caracterizado como o pior erro já cometido pela espécie humana.
Hoje em dia, a Segunda Guerra Mundial ainda é um dos temas mais importantes da História da humanidade. A exemplo da relevância e atualidade do tema, a National Geographic produziu um excelente documentário chamado Redescobrindo a Segunda Guerra, que aborda o conflito de uma maneira inovadora, visto pelas lentes das câmeras que filmaram as batalhas, os massacres e o dia-a-dia dos soldados e dos civis.
O documentário aborda desde a subida de Hitler ao poder e ascensão do nazismo na Alemanha até o fim da guerra com a tomada de Berlim, as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasáki e a rendição do Japão. São mostradas as mais importantes batalhas, as estratégias das duas frentes de guerra, a frieza dos nazistas e do exército alemão, a obediência dos generais de Hitler, o Holocausto, etc. Porém, o que mais chama a atenção em Redescobrindo a Segunda Guerra é o convívio da população civil com os bombardeios, com a fome e, sobretudo, com o racismo.
Diferentemente da grande maioria dos documentários sobre Segunda Guerra, a série da Natgeo foi produzida exclusivamente com vídeos feitos durante a guerra e que foram coloridos por computador, dando maior credibilidade às cenas. A realidade substitui a dramatização, tornando o documentário o mais fidedigno possível.
O documentário cria condições para repensarmos sobre o imperialismo e o racismo, que foram os principais fatores que geraram a guerra, e nos permite compreender a História da Segunda Guerra sob o olhar daqueles que vivenciaram o conflito.
Mais que uma série, Redescobrindo a Segunda Guerra é um exercício de reflexão sobre o maior genocídio cometido pelo homem, que deixou mais de 50 milhões de mortos e inúmeros feridos em todo mundo.
Logo abaixo, há uma lista com todos os episódios do documentário, disponibilizado no youtube. Uma bela aula de história produzida pela Natgeo.

Redescobrindo a Segunda Guerra:
http://www.megaupload.com/?d=I8REA8XF