terça-feira, 29 de junho de 2010

Torcendo Contra



Há alguns anos eu venho sendo hostilizado por amigos e familiares por torcer contra a seleção brasileira de futebol. Minha atitude não é simplesmente gratuita ou oportunista, muito menos quero criar a imagem do “cara do contra”. Tudo isso se deve ao caráter político adquirido pela CBF e pela gama de interesses que envolvem a convocação de jogadores e a formação do time.
Desde a Copa de 1998, sobretudo após o mundial de 2002, a seleção brasileira deixou de ser apenas um time de futebol do Brasil e se tornou uma instituição burocrática que atende a interesses políticos de mandatários clubísticos, empresários de jogadores e patrocinadores. Esse fator tem me deixado cada vez mais desgostoso com o futebol brasileiro e com a seleção, o que me força a torcer contra em alguns momentos.
Não sou hipócrita para deixar de torcer completamente pela seleção brasileira, mas o gostinho de torcer, principalmente nas Copas, não tem sido mais o mesmo. A falta de garra e a quase extinção daqueles jogadores que realmente vestem a camisa do Brasil, nesse esporte tão importante para os brasileiros, desmotiva qualquer torcedor. Na era Dunga então, com esse tanto de jogador meia-boca, sem técnica, sem raça e basicamente com todos os jogadores jogando fora do país, fica mais difícil ainda torcer a favor.
Li um texto essa semana na revista Caros Amigos que resume brilhantemente o meu pensamento sobre a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010 e por isso resolvi postá-lo. Segue:

Por Guilherme Scalzilli

Vai começar o espetáculo do ufanismo histérico. Mídias de todos os suportes serão tomadas pela publicidade oportunista do verde-amarelo. Jornalismo e marketing, amalgamados por interesses comuns, fornecerão os delírios de união e superioridade que o público precisa para engolir a farsa consumista. Milícias uniformizadas tomarão ruas e bares, assegurando a adesão das massas ignóbeis à ditadura do hexa.
Pois não contem com este humilde escriba. Torço apaixonadamente para o fracasso da seleção brasileira na África do Sul. Quanto mais humilhante e precoce, melhor. De preferência jogando mal, tomando olé, sob apupos das torcidas e o escárnio da crônica internacional. Que os falsos craques sejam desmascarados, patrocinadores amarguem prejuízos, apresentadores e comentaristas engasguem na desmoralização dos seus favoritismos.
A escolha soa impopular e arriscada, mas deveria constituir uma demonstração de coerência para os apaixonados pelo esporte. O time da CBF personifica os vícios e artimanhas que envenenam o futebol nacional. Ali podemos entender a pauperização dos campeonatos regionais, a destruição de clubes interioranos, o êxodo de talentos, o esvaziamento dos estádios, a imoralidade dos bastidores.
Uma seleção formada quase exclusivamente por jogadores de times estrangeiros não possui qualquer identidade com o torcedor brasileiro. Eles nem ao menos são melhores do que dezenas de atletas que jogam no país, e que formariam uma equipe mais entrosada, motivada e empolgante. Mas, claro, Dunga não pode privilegiar a qualidade. Sua caricatura de sargento brucutu ameniza as motivações financeiras da convocação, que atende aos interesses de empresários, cartolas e especuladores.
O legítimo espírito patriótico deve repudiar esse empreendimento nefasto e sua utilização da retórica nacionalista em benefício de corjas obscuras.