
Mais um dia na magnífica cidade de Cusco. Acordei um pouco depois das 8, tomei o café da manhã (o melhorzinho até agora, porque tinha um apresuntado pra comer com o pão seco daqui) e fui tirar xérox da minha identidade, carteirinha de estudante e visto de entrada no Peru para emissão da passagem para Águas Calientes e compra do ticket de entrada em Machu Picchu.
De volta ao hotel, meu amigo Edigar perguntou sobre os mercados de artesanato que eu tinha ido, pois queria comprar algumas lembrancinhas. Como eu estava interessado em voltar aos mercados para comprar presentes e olhar meus quadros com mais cautela, me propus como guia e fomos bater perna pela cidade. Andamos bastante pelos mercados até que PARAMOS (literalmente) numa banca onde o Edigar ficou pelo menos duas horas para comprar quase todo o estoque do peruano. O dono da banca era muito gente fina e atencioso, e ainda fez desconto em todos os produtos que compramos. Eu comprei somente duas camisetas, um porta carteira de cigarros e um chaveiro para presente, já o Edigar, gastou mais de 400 soles com presentes para os seus 572 irmãos e colegas de trabalho. Imagina na hora de negociar e pagar cada produto... Eu sou mão-de-vaca de natureza, só compro quando o vendedor está quase desistindo do negócio por causa da minha tamanha chatice, e ainda junto com o Edigar, que consegue ser pior que eu... Era assim: O produto custava 100, nós pedíamos 20 e acabava caindo pra 30 ou 40. Na hora de pagar extorquimos mais ainda o peruano, que tava quase mandando a gente ir catar pedra (e olha que tem pedra pra caramba em Cusco).
Com as mãos cheias de sacolas, satisfeitos com as compras, fomos até o mercado que tem umas bandeirinhas do Peru nos corredores e fica em frente ao chafariz, onde eu queria olhar as pinturas cusquenhas, já que o vendedor estava ausente ontem. Para minha surpresa, o dono da banca tinha saído para almoçar. Como eu não queria perder a viagem, procurei um lugar para sentar e esperei uma meia hora.
Enfim, o dono da banca chegou e eu pude ser atendido. O pintor era o próprio vendedor, então pude trocar mais idéias e aprender um pouco mais sobre a escola cusquenha de pintura. O cara é um grande artista, porque além das pinturas, ele mesmo faz as molduras e outras peças de artesanato que estavam expostas em sua banca, como uma réplica do púlpito da catedral de Cusco todo talhado em madeira. Fiquei mais ou menos uma hora e meia para ver algumas telas e decidir quais eu iria comprar, afinal, era uma pintura mais bela que a outra. Como o preço estava mais acessível que nas galerias do Bairro de San Blas (Enquanto uma pintura média e bonita em San Blas custava em torno de 170 soles com a moldura dourada, nesse mercado a pintura grande saía por 140 soles), eu acabei levando dois quadros por 200 soles: um grande com moldura dourada e um médio com moldura rústica. O Edigar acabou comprando um quadro médio também. Os quadros estavam sem a assinatura do pintor, pois ele também os vendia para galerias. Então, deixamos o endereço do hotel onde ele nos entregaria os quadros à noite, depois de assiná-los e colocar as molduras escolhidas por nós.


Já eram quase duas da tarde (4 da tarde no fuso horário brasileiro) e estávamos famintos. Pegamos um taxi até o hotel, guardamos as compras e almoçamos quase em frente, onde eu já havia almoçado antes. Cardápio: Pollo com papas fritas y ensalada. Apesar de a viagem ser marcada pela forte presença de frango e batata na dieta dos bolivianos e peruanos, a comida desse restaurante me fez lamber os beiços, pois era muito gostosa, bem servida e barata. Fiquei bem cheio e com vontade de deitar, mas eu só tinha o resto da tarde para conhecer a grandiosa Cusco.

No hotel, encontrei a Stéphannie e o Ulysses e fomos até o museu pré-colombiano. No caminho, paramos na bilheteria da catedral para perguntar o valor do ticket de entrada, pois eu queria conhecer algumas igrejas quando saísse do museu, onde havia algumas meninas muito bonitinhas que vendiam dedoches. Apesar de não ter comprado nenhum, eu brinquei tanto com as meninas que elas ficaram minhas amigas e foram nos seguindo até o museu. A entrada do museu custava 10 soles, se não me engano, mas como não havia controle na portaria e nenhuma pessoa fiscalizando, acabamos conhecendo o museu de graça. Não tinha muitas coisas interessantes nesse museu além de peças usadas por civilizações pré-colombianas que habitaram o Peru. Sobre os incas não tinha quase nada. Pelo menos fiz algumas amigas.

Ao sair do museu, logo do lado direito, tem uma pequena praça do Colégio Real São Francisco de Borja, fundado em 1621, de onde se tem uma vista panorâmica da Plaza de Armas e de Cusco. Após tirar algumas fotos, parti sozinho para catedral, já que o Ulysses e a Stéphannie estavam sem grana e sem interesse para conhecê-la. Comprei um ticket por 25 soles que dava direito de conhecer a catedral, a Igreja da Companhia de Jesus, a Igreja de San Blas e o Museu de Arte Sacra.

Na catedral, em vez de seguir um pequeno grupo acompanhado de um guia, peguei um roteiro e um aparelhinho parecido com um walkman que continha todas as informações sobre a igreja, como se fosse um guia virtual. À medida que eu andava pelas zonas e altares da igreja, bastava localizar no roteiro e digitar um número correspondente no aparelho para ouvir todas as informações.

A catedral é de uma beleza única e seus inúmeros altares são deslumbrantes. As igrejas de São Francisco de Assis, em Salvador, e de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, conhecidas por serem as mais belas e com maior quantidade em ouro do Brasil, são “fichinhas” perto da catedral de Cusco, que é constituída de duas capelas laterais e a igreja central. Infelizmente é proibido tirar fotos dentro da igreja e há muitos funcionários vigiando, o que torna quase impossível tirar fotos legais. Sem me conformar em apenas ouvir o guia pelo headphone e observar a magnitude da belíssima construção católica, perguntei para uma funcionária se não existia algum material para venda, como DVD, CD ROM ou livro, contendo fotos e informações sobre as igrejas cusquenhas. Tinha somente dois livros, sendo um deles riquíssimo em fotos, mas eram caros (70 soles). A mulher, porém, me disse que tinha um documentário em DVD que possuía distribuição restrita, mas que ela poderia me vender. Falei que só tinha 5 soles no bolso (de fato não era verdade, mas era uma meia mentira, pois eu tinha outros 200 soles que seriam usados pra pagar os quadros e eu não podia gastá-los) e inventei que tinha mais 100, mas que não estavam trocados. Ela acabou aceitando os 5 soles e disse que eu trocasse o dinheiro depois e levasse mais uns 10 ou 15 soles pra ela... A coitada deve estar esperando até agora. Peguei o DVD e continuei a visita pela igreja: conheci seus inúmeros altares; a sacristia; uma sala toda em madeira trabalhada, bem no centro da igreja principal, onde fica o coro e dois órgãos gigantes; seus púlpitos lindíssimos e uma pequena sala subterrânea. O mais interessante de tudo é a imponência do catolicismo espanhol, ilustrado pela grande quantidade de ouro e prata presente nos altares e pelas várias pinturas expostas em toda a igreja.
Saí da catedral eram quase 18 horas (gastei muito tempo lá dentro), as outras igrejas e o Museu de Arte Sacra já estavam fechados e, infelizmente, só reabririam entre 8 e 9 da manhã do dia seguinte. Como sairíamos para Águas Calientes por volta das 7 da manhã, eu acabei perdendo o ticket e a oportunidade de conhecer as outras igrejas de Cusco. Dei mais uma volta pela praça, voltei para o hotel, tomei um banho e, como já eram mais de 21 horas, fiquei esperando até as 22, quando o pintor entregaria meus quadros.

Peguei os quadros, os guardei no quarto e fui para a Plaza de Armas novamente, para procurar algum lugar para comer. Como eu já estava sem grana e não queria sacar mais dinheiro, comi novamente no Bembos, onde paguei com cartão de crédito. Fui rapidamente numas boates e voltei para o hotel. Eu já estava bem cansado para ficar na rua e a viagem para Águas Calientes amanhã será bem cansativa. Estou quase chegando ao objetivo principal da minha viagem: Machu Picchu.


